9.1 Prólogo

Se você teve contato com pessoas cuja língua materna não é uma língua românica, seja inglês, alemão, russo, polonês, etc., você sabe que essas pessoas são capazes de dizer coisas como essas.

Eu dormi quando ele entrava.
De repente, a bomba explodia.

Este problema surge porque para as pessoas cuja língua materna não é uma língua românica o sistema temporal destas línguas parece algo extraterrestre. No entanto, a situação não é tão clara tampouco no que diz respeito às línguas românicas e o português é fundamentalmente diferente de todas as outras línguas românicas. Em todas as outras línguas românicas é feita uma distinção que não é feita em português. Nas outras línguas românicas, faz-se uma distinção, por ora deixamos de lado os detalhes, entre uma acção que acabou num passado acabado e uma acção que ainda tem impacto no presente. Vamos olhar para estas frases.

A: Hai fame
B: No, ho già mangiato.
não: No, già mangeai.
A: Tens fome?
B: Não, já comi.

não: Não, já tenho comido.


Temos uma ação do passado, comer, que tem um impacto sobre o presente. Só porque ele já comeu alguma coisa, não tem fome. Em tal contexto em italiano é obrigatório o passato prossimo, que se assemelha formalmente ao pretérito perfeito composto, pois ambos são construídos com um verbo auxiliar e o particípio perfeito, tenho comido / ho mangiato. Usar o passato remoto, que formalmente corresponde ao pretérito perfeito simples, seria um grave erro (pelo menos se a norma italiana for aceita, que é cada vez menos respeitada, ver abaixo). Em português, por outro lado, o pretérito composto perfeito estaria errado, pois tem uma função completamente diferente. Em português o pretérito composto perfeito é utilizado se uma acção dura ou se repete até ao presente do orador. Tenho comido significa que continua a comer até ao presente do locutor.

Repetimos: Em italiano e em todas as outras línguas românicas o aspecto central é se a acção ainda tem impacto no presente. Se for isso o caso é usado um tempo verbal que se assemelha formalmente ao pretérito perfeito composto, em italiano o passato prossimo. Se a ação dura ou é repetida até o presente é irrelevante. Em português é o contrário. A questão principal é se a acção se repete até o presente do orador. Se tem ou não um impacto sobre o presente é irrelevante.

Isto não significa que um pretérito perfeito composto nunca é traduzido com um passato prossimo. Uma acção pode durar e ser repetida até ao presente do orador e ao mesmo tempo, de um ponto de vista subjectivo, o orador pode ter a impressão de que ainda está no mesmo espaço temporal em que esta acção foi realizada.

Eu tenho comido cereal no café da manhã por toda a minha vida.
Io ho mangiato cereali a colazione per tutta la mia vita.

Neste caso, constrói-se com pretérito perfeito composto em português porque é uma ação que dura e se repete até o presente do locutor e em italiano é utilizado o passato prossimo, porque o locutor ainda está no mesmo espaço temporário. No entanto, no caso da frase portuguesa, o tempo verbal nos informa que a ação se repetiu, enquanto em italiano é o advérbio per tutta la vita.

É útil para ver esta diferença. Tanto o passato remoto como o passato prossimo são traduzidos com o pretérito perfeito simples. O pretérito perfeito simples é o tempo verbal do passado dominante em português.

Sin embargo en la vida real la cosa es un poco más complicada, porque aparte del español, hoy en día no se hace esta distinción entre acción acabada en un passado acabado y impacto sobre el presente. La situación hoy en día describe la la Accademia della Crusca que equivale al Instituto Camões.

"Giovanni Nencioni pone anche l'accento sull'aspetto diatopico del problema, ovvero sulla diversa distribuzione geografica della scelta fra i due tempi verbali, sottolineando come «l'alternanza del passato prossimo col passato remoto, nella lingua sia parlata che scritta, non è uniforme in Italia, perché vi influisce anche il sostrato dialettale dei parlanti o scriventi. Le migliori grammatiche dicono che nell'Italia settentrionale prevale l'uso del passato prossimo, nell'Italia meridionale l'uso del passato remoto, benché il passato prossimo vi acquisti terreno; in Toscana l'alternanza è tuttora viva e significativa."

http://www.accademiadellacrusca.it/faq/faq_risp.php?id=4697&ctg_id=93

"Giovanni Nenciono também alude ao aspecto geográfico do problema, ou seja, ao fato de que o uso de uma tempo ou outro depende da região, sublinha que o uso do passato prossimo e do passato remoto, tanto na língua escrita como na língua falada não é o mesmo em toda a Itália, porque depende do dialeto da pessoa que escreve ou fala. As melhores gramáticas sustentam que no norte da Itália o passato prossimo é dominante, no sul o passato remoto embora o passato prossimo esteja a ganhar terreno. Na Toscana esta alternância ainda está viva e significativa".



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