9.2.3 trapassato prossimo |
Quando a polícia chegou, a confusão já tinha passado.
fonte: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/lingua-portuguesa/preterito-mais-que-perfeito
Neste caso é de uma escola no Brasil, mas sem qualquer dificuldade você pode encontrar a mesma afirmação em milhares de livros e websites na Alemanha, Inglaterra, França, Itália, etc. etc. Disso pode-se tirar uma conclusão um pouco deprimente. A humanidade raramente concorda em coisas razoáveis, mas muito frequentemente em disparates. Vamos lá ver. Dizem que o pretérito mais-que-perfeito composto é usado quando se tem de descrever uma acção no passado que ocorreu antes de outra acção no passado.
Entrou, saudar toda a gente, pediu uma cerveja, bebeu-a, pagou e saiu.
É óbvio que a ação de entrar ocorreu antes da ação de saudar, ele pediu uma cerveja depois de ter saudado e a cerveja bebeu antes de pagar e só depois de ter pago, ele saiu. Todas estas acções ocorrem antes duma outra. E onde está o pretérito mais-que-perfeito composto? E para que se precisa dele? E se neste caso for necessário descrever uma ação com o pretérito mais-que-perfeito composto, qual delas? Se se põe no pretérito mais-que-perfeito composto ação de saudar porque é anterior pedir uma cerveja, então pedir uma cerveja a é anterior à ação beber. Neste caso, ambos estariam em pretérito mais-que-perfeito composto. Em resumo: Esta descrição do uso do pretérito mais-que-perfeito composto é um completo disparate. Agora a questão é, quando deve ser usado o mais-que-perfeito composto? As regras que apresentamos aqui são válidas para todas as línguas, pelo menos para todas as línguas indo-germânicas.
1) | O trapassato prossimo / preterito mais-que-perfeito composto é usado quando os eventos não são contados na ordem cronológica correta. |
a) Tiveram de deixar o carro, a caixa de marchas tinha avariado. | |
b) Tiveram de deixar o carro, a caixa de marchas mudanças avariou. |
Neste caso, devemos fazer uso da força semântica do pretérito mais-que-perfeito composto. Entendemos por força semântica o fato de que o pretérito mais-que-perfeito composto expressa algo que em outras circunstâncias seria descrito com um advérbio (antes, anteriormente). A frase b) é absurda, porque sugere que o carro tinha avariado depois de ter sido deixado. Se for usado o pretérito perfeito simples, é uma cadeia de eventos que se sucedem uns aos outros. Pode-se usar o pretérito perfeito simples quando um evento ocorre após outro, mas deve-se usar o pretérito mais-que-perfeito composto se não se descrevem os eventos na ordem cronológica correta.
Correcto: Tiveram de deixar o carro e o Juan teve de ir a uma bomba de gasolina. (cronologia correta.)
incorrecto: Tiveram de deixar o carro, a caixa de marchas mudanças avariou. (cronologia incorreta.)
2) | Deve-se usar o pretérito mais-que-perfeito composto se uma ação for a conseqüência lógica de outra ação. |
a) O carro dele tinha avariado, por isso ele teve de o deixar. | |
b) Não: O carro dele avariou-se, por isso teve de o deixar. |
3) | O plusquamperfect deve ser usado quando se trata de um evento terminado no passado e o facto de ter sido terminado é a afirmação central da frase. |
a) Ela já tinha escrito a carta, mas não a despachou. b) Não: Ele já escreveu a carta, mas não a despachou. |
4) | O pretérito mais-que-perfeito composto deve ser usado quando a afirmação central da frase é que uma ação não foi concluída. |
a) Ele não tinha lido o livro, mas falou sobre o conteúdo como se o tivesse lido. | |
b) possível, mas outro sentido: Ele não lia o livro, mas falava do conteúdo como se o estivesse lido. |